De corpos robustos, membros em formato de nadadeiras, olhos pequenos e comportamento dócil, os sirênios são mamíferos aquáticos que habitam regiões tropicais e subtropicais do planeta. Sua ocorrência está restrita a algumas áreas e atualmente existem apenas quatro espécies no mundo. Os sirênios estão extremamente ameaçados de extinção e necessitam de iniciativas que promovam a conservação das espécies. Leia o texto e conheça quem são os sirênios.
Espécies de sirênios existentes. Fonte: Bôaviagem-Freire (2016).
Os sirênios são um grupo de mamíferos aquáticos que se alimentam de plantas, possuem hábitos solitários e podem ser encontrados em áreas tropicais e subtropicais. Pertencem à Ordem Sirenia, e estão distribuídos em duas Famílias: Dugongidae e Trichechidae.
A Família Dugongidae possui duas espécies, o dugongo (Dugong dugon) e a vaca-marinha (Hydrodamalis gigas), sendo esta já extinta. Já a Família Trichechidae possui apenas um gênero (Trichechus) e três espécies viventes: peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis), peixe-boi-amazônico (T. inunguis) e o peixe-boi-marinho (T. manatus).
No Brasil são encontradas as espécies T. inunguis e T. manatus.
Distribuição mundial das espécies de sirênios existentes. Fonte: Vianna et al. (2006).
Os sirênios têm preferência por ambientes rasos. Tratando-se de peixes-bois-marinhos, a espécie pode ser encontrada utilizando rios, estuários e mares, ficando mais na região costeira. São herbívoros e seu cardápio inclui algas-marinhas, capim-agulha, folhas de mangue e macrófitas.
Por passarem a vida toda dentro da água, apresentam adaptações corporais indispensáveis no ambiente marinho, como por exemplo: presença de membros anteriores em formato de nadadeiras; membros posteriores reduzidos a um pélvis vestigial; e nadadeira caudal em “formato de remo”.
Os sirênios possuem o menor cérebro dentre todos os mamíferos em relação à massa corpórea, mas sua capacidade cognitiva assemelha-se à dos golfinhos, embora executem movimentos mais lentos.
Os olhos e os ouvidos são pequenos e pouco desenvolvidos, estando sua função sensorial e de localização atribuída aos pelos e vibrissas distribuídas pelo corpo e região facial.
Imagem dando destaque ao tamanho dos olhos do peixe-boi-marinho. Foto: Edson Acioli/Acervo FMA.
Algumas características morfológicas dos sirenídeos os torna únicos e contribui para distingui-los dos demais grupos de mamíferos, como por exemplo a presença de glândulas mamárias nas axilas das nadadeiras peitorais e dentição especializada.
Filhote de peixe-boi-marinho mamando. Foto: Wikimedia Commons.
O ciclo reprodutivo dos sirênios é longo, durando entre 11 a 13 meses, onde cada fêmea gera apenas um filhote por vez, sendo os casos de gêmeos muito raros. Após o nascimento, o filhote é cuidado e amamentado pela mãe por cerca de 2 anos.
As fêmeas são muito zelosas com seus filhotes, os ensinam a nadar, ir à superfície para respirar e os ajudam a selecionar seus alimentos. Todas as espécies apresentam cuidado parental, que perduram por aproximadamente 3 anos - dois de amamentação, mais um de cuidados extras.
Devido a toda essa dedicação e cuidados, a fêmea procria uma vez a cada três ou quatro anos, o que influencia diretamente na capacidade de recuperação das espécies de sirênios.
Os Sirênios vivem sob constantes ameaças. Para os peixes-bois-amazônicos a caça ainda é um dos principais fatores de ameaça. Além disto, todas as espécies são afetadas ainda por impactos decorrentes da captura acidental em redes de pesca, perda de habitat, poluição marinha, atropelamentos ocasionados por embarcações motorizadas.
Outro fator bastante comum no Brasil é o encalhe de filhotes, especialmente na região Nordeste.. Atualmente, as duas espécies encontradas no Brasil são consideradas vulneráveis à extinção pela IUCN.
Tanto o peixe-boi-amazônico quanto o peixe-boi-marinho possuem poucos indivíduos na natureza . Desde a colonização, ambas as espécies eram muito caçadas para o consumo de sua carne. Hoje em dia, esse quadro melhorou um pouco para a espécie marinha, contudo a espécie amazônica ainda sofre bastante com essa prática.
Na tentativa de reverter esse quadro, diversos esforços são feitos pela conservação dos sirênios, contemplando a implementação de leis, como ações prioritárias, tais como:
Iniciativas de educação ambiental, promovendo a orientação e sensibilização da população;
Ações de manejo (resgate, reabilitação, soltura e monitoramento); c) pesquisas que possibilite ampliar o conhecimento sobre as espécies; d) criação e implementação de Unidades de Conservação (áreas protegidas); e) fiscalização; entre outros..
Como comentado anteriormente, a Ordem Sirenia possui quatro espécies existentes, de modo que no Brasil, são encontradas duas delas. Vamos conhecer um pouco sobre essas espécies?
Os Dugongos (Dugong dugon) pertencem a família Dugongidae. Os indivíduos adultos pesam de 230 a 400 kg e podem medir de 2 a 4 metros de comprimento.
Sua aparência é bem semelhante à dos peixes-bois, mas algumas diferenças são bem marcantes entre as espécies. Sua coloração é cinza-claro e a nadadeira caudal é semelhante a dos cetáceos. Não existe a presença de unhas nas nadadeiras peitorais.
Indivíduo adulto de Dugongo. Foto: Geoff Spiby - Creative Commons.
Sua arcada dentária é composta por 3 molares e 3 pré-molares em cada lado da maxila mais um par de dentes incisivos, que se diferenciam nos machos maduros e em algumas fêmeas idosas.
Ademais, não apresentam diferenças físicas entre machos e fêmeas, pois é uma espécie monomórfica.
Sua distribuição restrita ao Oceano Índico e Pacífico, sendo encontrados nas águas quentes da África Ocidental, no Mar Vermelho e especialmente nos entornos da Austrália. Passam grande parte do tempo sozinhos, mas às vezes é possível avistá-los em grupos.
São ótimos nadadores, capazes de submergir por 15 minutos, mas geralmente não ultrapassam 10 metros de profundidade.
Podem chegar a aproximadamente 60-70 anos na natureza, já em cativeiro apresentam uma expectativa de vida bem baixa. Atingem a maturidade sexual por volta dos 9 anos de idade e acasalam em qualquer época do ano, embora a maioria dos nascimentos ocorrem entre julho e setembro.
A intervenção humana ainda é a maior ameaça enfrentada pelos dugongos. Sua taxa de mortalidade é alta e seu estado de conservação é “Vulnerável”,.
Infelizmente, a gordura e a carne dos dugongos são muito valorizadas nas regiões onde são encontrados, e, por conta disso, são caçados. Os dugongos correm alto risco de extinção e especialistas acreditam que a espécie desaparecerá de vez nos próximos 40 anos.
Trichechus manatus, T. senegalensis e T. inunguis. Fonte: Reynolds et al. (2018).
Trichechus manatus é a espécie símbolo da Fundação Mamíferos Aquáticos. Esse grande e cinzento mamífero aquático, habita as águas costeiras e estuários. É encontrado desde a Flórida, nos Estados Unidos, até a região costeira do nordeste brasileiro.
Atualmente o peixe-boi-marinho possui sua distribuição restrita às regiões Norte e Nordeste do país, ocorrendo de maneira descontínua entre os Estados do Amapá até Alagoas, com a evidência de animais que foram reintroduzidos no estado de Alagoas, utilizando os estados de Sergipe e Bahia (áreas de distribuição histórica da espécie).
O peixe-boi-marinho vem sofrendo perda de habitats, o que vem influenciando na distribuição geográfica da espécie, constituindo assim um importante fator de ameaça à conservação desses animais.
Possui de três a quatro unhas nas nadadeiras peitorais e seu corpo tem a coloração cinza. Seus olhos são pequenos, mas potentes! Os peixes-bois-marinhos são capazes de enxergar a uma distância de 35 m, mesmo em águas turvas. Não possuem orelhas e seu aparelho auditivo é interno.
Seu focinho é grande e proeminente e suas narinas são cobertas por tampões que se abrem quando o animal sobe para respirar. Não apresenta diferenças entre machos e fêmeas, sendo que a única forma de diferenciá-los é observando a abertura genital.
Tampões nasais presentes nos focinhos. Foto: Edson Acioli/Acervo FMA.
Sua boca conta com poucos dentes, estando todos concentrados na parte de trás da boca (molares). Esses dentes vão se desgastando e se renovando ao longo da vida dos peixes-bois-marinhos.
Quer saber mais sobre esse animal? Acesse nosso Instagram e confira 3 coisas que provavelmente você não sabia sobre os peixes-bois-marinhos.
O encalhe de filhotes, a captura acidental em redes de pesca, a perda de habitat e o choque com embarcações são alguns dos principais desafios enfrentados na conservação da espécie. Alguns projetos de conservação e iniciativas para proteger T. manatus vêm sendo desenvolvidos e têm se mostrado eficientes, a exemplo do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, desenvolvido pela Fundação Mamíferos Aquáticos.
O peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis) habita águas costeiras, rios e pântanos, sendo encontrado em mais de 15 países africanos, distribuídos desde o Rio Senegal, em Senegal, até o Rio Cuanza, em Angola.
Distribuição de T. senegalensis. Fonte: Wikimedia Commons.
Habita águas calmas, com temperaturas variando em torno de 18ºC. Seu tamanho varia entre 2,5m e 3,4m de comprimento e seu peso pode chegar a 500 kg. Possui muitas semelhanças com o T. manatus, como a textura da pele e coloração, porém seu corpo é mais robusto e seus olhos são mais proeminentes que os do peixe-boi-marinho.
O peixe-boi-africano ainda é pouco estudado em comparação aos outros do mesmo gênero.
Embora sejam protegidos por leis há muitas décadas em diversos países onde ocorrem, o peixe-boi africano ainda sofre com a caça, sendo recorrente os casos em que ficam presos em armadilhas e em redes de pesca.
Apesar de não serem explorados comercialmente em grande escala, a população de T. senegalensis vem diminuindo em várias áreas devido a ação e interferência do homem.
Atualmente é classificado pela IUCN como vulnerável e de acordo com alguns levantamentos realizados existem cerca de 9.000 a 15.000 indivíduos em toda a extensão do território africano, inclusive de Angola ao Congo.
O peixe-boi-amazônico (T. inunguis) é o único dentre os sirênios que ocorre exclusivamente em água doce. A espécie está distribuída por toda extensão da bacia amazônica, sendo encontrado, no Brasil, nos rios Tocantins, Amazonas e outros; no Rio Takau na fronteira Brasil-Guiana; e ainda na Colômbia, no Peru e no Equador.
Peixes-bois-amazônicos. Foto: Wikimidia Commons.
Se alimenta principalmente dos aguapés e capins aquáticos. É capaz de passar até oito horas comendo, consumindo 10% do seu peso em alimentos por dia. Apesar de ser o menorzinho dentre os peixes-bois, pode atingir o tamanho de 2,5m e pesar 300kg.
Se não está comendo, está dormindo… Sim, os peixes-bois-amazônicos adoram uma sonequinha e passam metade do seu dia dormindo dentro da água. Eles necessitam subir a superfície a cada dois ou cinco minutos para recuperar o fôlego, mas durante o sono são capazes de ficar submersos por até 25 minutos.
A principal diferença entre peixes-bois-amazônicos e peixes-bois-marinhos é a presença de unhas nas nadadeiras peitorais da espécie marinha. Outra diferença é a coloração: T. inunguis possui uma coloração mais escura e apresenta uma mancha branca na região ventral.
Os peixes-bois-amazônicos são muito impactados pela caça para consumo de sua carne e gordura, o que levou a redução significativa de suas populações. Atualmente, a espécie é considerada como vulnerável pela IUCN.
Todo projeto de conservação realizado em prol dessas espécies é extremamente necessário! O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho trabalha para preservar a espécie e pede a colaboração de toda a sociedade para proteger o animal.
Atenção! Aqui vão algumas orientações para os turistas e para quem possui barco, jet-skis e lanchas:
No Brasil, a perda dos peixes-bois-marinhos iria ressoar sobre a manutenção de diferentes habitats costeiros e estuarinos, além de áreas que funcionam como berçário da vida marinha. Dessa forma, seu desaparecimento poderia influenciar as interações ecológicas, a qualidade do solo e da água, e atividades econômicas, como a pesca.
O impacto sobre as interações ecológicas interfere em toda forma de vida, inclusive, a dos seres humanos, pois estas são indispensáveis para a manutenção da vida na Terra. Faça a sua parte e respeite a natureza. Os sirênios agradecem, e nós também!
Autor: Juliana Cuoco Badari - GreenBond.