Um encontro histórico que ratifica o repovoamento dos peixes-bois marinhos em Sergipe e no litoral norte da Bahia.
Por Karlilian Magalhães
Depois de 22 anos circulando sozinho pelo litoral sul de Sergipe e norte da Bahia, "Astro" finalmente encontra outro peixe-boi na vida. Um momento muito especial e esperado por todos os profissionais que trabalham com a conservação da espécie no Brasil. O encontro foi registrado no dia 15 de fevereiro de 2021, numa segunda-feira de carnaval, pelo biólogo Allan Oliveira, que, com a ajuda de colaboradores voluntários, realiza o monitoramento diário de "Astro", o primeiro peixe-boi marinho reibtroduzido no Brasil.
O peixe-boi que está acompanhado "Astro" nas aventuras ecológicas pelo litoral sul de Sergipe é "Tupã", um animal com histórico de reintrodução (veja no vídeo registrado pelo nosso colaborador voluntário na região, o barqueiro Elton Oliveira Santos). "Tupã" parece gostar muito de viajar. Ano passado ele saiu da APA Costa dos Corais, em Alagoas, foi visto em Porto de Galinhas (PE), logo após apareceu na APA da Barra do Rio Mamanguape (litoral norte da PB), onde passou uns dias, e depois continuou seguindo viagem chegando a ser avistado em algumas praias do Rio Grande do Norte.
"Tupã" tem aproximadamente 16 anos. Foi resgatado ainda filhote em 2005 pela equipe da Aquasis na praia de Uruaú, em Beberibe (CE), sendo logo encaminhado para o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, localizado na Ilha de Itamaracá (PE), onde permaneceu por seis anos em processo de reabilitação. Em 2011, "Tupã" foi transferido para o cativeiro em ambiente natural localizado em Porto de Pedras (AL) e em 2012 foi reintroduzido na natureza, no litoral alagoano.
Já "Astro” têm um histórico de extrema importância para a conservação do peixe-boi marinho no Brasil. Ele junto com o peixe-boi "Lua" foram os primeiros animais da espécie a serem reintroduzidos no país. Em 1991, ele foi encontrado ainda filhote encalhado na praia de Aracati (CE), sendo em seguida encaminhado para o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, em Itamaracá, onde permaneceu por três anos em processo de reabilitação. Em 1994, foi transferido para um cativeiro construído em ambiente natural, em Paripueira (AL), e, após readaptado às condições ambientais, foi solto nesta mesma região. Por volta de 1998, “Astro” se deslocou para o litoral de Sergipe e, desde então, vem utilizando a área compreendida entre o rio Vaza-Barris (SE), o complexo estuarino rio Real até Mangue Seco, litoral norte da Bahia.
O fato é que neste feriado de Carnaval, depois de 22 anos circulando sozinho pelo litoral sul de SE e norte da BA, "Astro" finalmente encontrou outro peixe-boi: o viajante "Tupã". Os dois agora andam juntos pela região e estão sendo monitorados pela equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho da Fundação Mamíferos Aquáticos, que pede a colaboração de todos para não tocar, não alimentar e nem fornecer bebida aos peixes-bois marinhos. O melhor a fazer é manter distância, respeitando o espaço dos animais, e apenas admirá-los de longe. Se perceber que os peixes-bois estão em situação de perigo, encalhados ou machucados, entre em contato: (79) 99130-0016 / (83) 99961-1338/ (83) 99961- 1352 (whatsapp).
Aos condutores de embarcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins), a equipe alerta: antes de acionar o motor, olhe ao redor e verifique se tem peixe-boi próximo. A hélice em movimento pode machucar e matar o animal. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto. Se estiver navegando e avistar o animal nas proximidades, reduza a velocidade ou desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.
A Fundação Mamíferos Aquáticos realiza ações e projetos em prol da conservação do peixe-boi marinho no Nordeste do Brasil, a exemplo do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e do Programa de Conservação do Peixe-Boi Marinho, que tem a correalização da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
O trabalho de conservação dos peixes-bois marinhos no Brasil é fruto da colaboração de várias comunidades e instituições, de modo que no caso destes animais gostaríamos de agradecer os intensos esforços da ONG Aquasis, da APA Costa dos Corais/ICMBio, do Cepene/ ICMBio, do Centro Mamíferos Aquáticos e da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio.
Fotos: Acervo FMA