Resíduos sólidos de países como China, Índia, Malásia e Rússia chegam em quantidades alarmantes ao litoral sergipano, revelando dimensão global da crise plástica nos oceanos.
O litoral sergipano enfrenta uma invasão silenciosa que transpõe oceanos: resíduos sólidos de países distantes como China, Índia, Malásia e até Rússia têm chegado em quantidades alarmantes às suas praias. O fenômeno, monitorado pela Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), revela a dimensão global da crise dos resíduos plásticos nos oceanos.
"As correntes marítimas e o descarte irregular dos resíduos por navios próximos à costa são os principais responsáveis por trazer esse lixo internacional", explica o biólogo Rodolfo Alves, biólogo da FMA. Segundo ele, embora o problema não seja novo, sua intensificação nos últimos anos tem gerado impactos ambientais sem precedentes.
Entre os itens mais frequentemente encontrados nas operações de limpeza estão garrafas plásticas de água, embalagens de produtos de higiene pessoal, materiais de limpeza doméstica, frascos de inseticidas e recipientes de leite e suco – todos com rótulos e inscrições em idiomas estrangeiros.
A AMEAÇA INVISÍVEL AOS ECOSSISTEMAS
A contaminação vai muito além da poluição visual. "Os animais marinhos frequentemente confundem esses resíduos com alimentos. Tartarugas, por exemplo, podem ingerir sacolas plásticas pensando serem águas-vivas", alerta Rodolfo Alves. Mais preocupante ainda é a degradação desses materiais em microplásticos, que entram na cadeia alimentar marinha e eventualmente chegam aos pratos dos consumidores humanos.
O balanço das ações da FMA é impressionante: entre 2023 e 2024, foram retiradas aproximadamente 2,5 toneladas de resíduos sólidos do litoral brasileiro. "Em uma única operação nas praias sergipanas, coletamos quase meia tonelada de lixo", revela o biólogo.
SOLUÇÕES COLETIVAS
Para Rodolfo Alves, o combate a essa forma de poluição exige esforços em múltiplas frentes. "Precisamos intensificar campanhas educativas, instalar mais pontos de coleta estratégicos e, principalmente, desenvolver na sociedade um sentimento de pertencimento em relação ao ambiente marinho".
A FMA, organização não-governamental reconhecida por seu trabalho na conservação marinha – especialmente com o peixe-boi-marinho como espécie bandeira – promove anualmente um mutirão em alusão ao Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias. Em 2025, a ação está marcada para 20 de setembro, em local ainda a ser definido.
"Cada garrafa retirada da praia pode significar a vida de uma tartaruga ou de um peixe-boi-marinho. Este trabalho tem valor inestimável para a conservação da biodiversidade marinha", conclui o especialista.
Por Rodolfo Alves e Ícaro Figueiredo – Aracaju, 15 de abril de 2025