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Lixo nas praias: O maior desafio da Década do Oceano

21/10/2022        

Agenda 2030, Ecologia, Meio Ambiente, Praias Limpas, Socioambiental, Sustentabilidade

Lixo nas praias: o maior desafio da Década do Oceano

O descarte incorreto de resíduos é um problema alarmante no mundo todo, e uma de suas consequências é o aumento da poluição nas praias. O lixo nas praias afeta a todos os seres vivos, ameaçando tanto a saúde humana quanto a vida marinha. Ações coletivas de recolhimento de lixo nas praias tem contribuído na minimização desse problema e na sensibilização da população sobre a importância dos oceanos. Confira mais informações no texto!

Problemas gerados pelo descarte incorreto de resíduos

Antes de darmos início ao assunto é interessante tentarmos compreender o que acontece para que o lixo chegue até o mar. Por que será que tem tanto resíduo no fundo dos oceanos e por que as praias estão cada vez mais cheias de lixo?

A população mundial só cresce, e com ela, aumenta também a quantidade de resíduo que é descartada. Atualmente, somos quase 8 bilhões de pessoas no mundo e, de acordo com os últimos levantamentos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), cada ser humano produz em média 1,2 kg de lixo por dia.

De acordo com uma pesquisa nacional de saneamento básico do IBGE, só no Brasil são recolhidos, diariamente, mais de 180 mil toneladas de resíduos sólidos, que são produto da atividade urbana, rural, industrial e de serviços de saúde. Um número muito alto!

Tudo o que descartamos é chamado de lixo. O volume de lixo no mundo é enorme e só tende a aumentar. Atualmente, o destino que o lixo recebe consiste em um dos problemas mais graves enfrentados.

Mais da metade dos municípios brasileiros descartam resíduos de maneira irregular e apenas 18% das cidades brasileiras contam com o serviço de coleta seletiva. O Brasil, é o quarto maior produtor de lixo do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, China e Índia, e recicla menos de 3% de todo o resíduo produzido.

Grande parte dos resíduos produzidos em nosso país é jogado em lixões a céu aberto sem qualquer tratamento, o que gera um prejuízo econômico que passa dos R$ 8 bilhões anuais. Descartado de qualquer maneira, o lixo também contribui com o aumento de doenças e proliferação de pragas. Portanto, o problema do lixo não afeta somente o meio ambiente, mas também a saúde da população e a economia.

Todo esse lixo descartado de maneira incorreta promove a emissão de gases poluentes que prejudicam a atmosfera, contaminam e afetam a produtividade do solo, afetam os ecossistemas, contribuem com o assoreamento de mananciais e provocam a poluição de rios, lagos, oceanos, aquíferos e lençóis freáticos.

O lixo nas praias e oceanos

Após ser descartado, o lixo pode ter uma série de destinos e segue um longo percurso: uma parte vai parar em lixões e aterros, onde ficam expostos e liberam uma série de gases poluentes; outra parte vai para as ruas, entupindo bueiros e provocando enchentes; e uma boa parte vai para os oceanos.

Em um estudo sobre poluição marinha realizado pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) e pela ONU Meio Ambiente, foi constatado que 25 milhões de toneladas de lixo são descartadas no oceano. Desse volume, 13 milhões de toneladas correspondem a lixo plástico.

Foto: Wikimidia Commons

Foto: Wikimedia Commons.

Durante a pandemia do coronavírus a porcentagem de lixo plástico nos oceanos só aumentou. Somente no ano de 2020, foi calculado pela organização de conservação marinha OceanAsia que os oceanos receberam 1,56 bilhões de máscaras faciais, o que representou mais de 5.000 toneladas adicionais de poluição por plásticos.

De todo o lixo que é encontrado nos mares, cerca de 80% é proveniente de áreas continentais, sendo composto pelo descarte de indústrias, urbano e agrícola. Os números são realmente assustadores, não é mesmo?!

De que forma a fauna marinha é impactada pelo lixo?

Com frequência ouvimos falar dos problemas causados pelo lixo ao meio ambiente. Os resíduos descartados de maneira irregular provocam uma série de impactos ambientais negativos e afetam todo tipo de vida existente na Terra, inclusive a marinha.

Muitos animais marinhos ingerem os resíduos que veem na água, pois, ao contrário de nós, eles não conseguem diferenciar o que é lixo do que é comida. Uma vez em seus organismos, esses resíduos afetam a capacidade de absorção de nutrientes, o que com o tempo, debilita os animais e dificulta a sua sobrevivência.

A ingestão de lixo também pode acarretar no sufocamento, obstrução do trato digestório, intoxicação e/ou contaminação de espécies marinhas. Além da ingestão, os resíduos descartados também prejudicam os animais fisicamente, pois estes podem se enroscar e se ferirem com determinados tipos de materiais.

A Universidade de Queensland, na Austrália, avaliou o impacto causado pelo lixo, especialmente o plástico, sobre a vida marinha e constatou que ao menos 100 mil animais morrem todo ano em consequência do lixo. Aves marinhas, peixes, tartarugas, golfinhos, baleias, leões marinhos e peixes-boi, são algumas das vítimas desse problema.

Em torno de 700 espécies marinhas são afetadas pelos resíduos plásticos e acredita-se que mais de 85% da fauna contaminada por plástico esteja sob algum grau de ameaça de extinção.

O que é a Década do Oceano?

A contaminação dos oceanos pelo descarte indevido de resíduos sólidos é um dos maiores desafios enfrentados pela Década do Oceano.

A Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o desenvolvimento Sustentável, foi instituída em 2017, pela ONU, e deverá ser aplicada no entre 2021 e 2030.

Popularmente conhecida como Década do Oceano, a iniciativa tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância dos oceanos, mobilizando Estado, sociedade civil e empresas privadas a desenvolverem ações que favoreçam a preservação, reduzindo o lixo nas praias e fortalecendo a gestão sustentável dos mares.

A ação tem como objetivo contribuir com o cumprimento da Agenda 2030, e está relacionada a ODS14. A Década do Oceano é mais um movimento que busca cuidar do nosso planeta e garantir um futuro melhor para toda a humanidade.

Ações de limpeza das praias

Você há de concordar comigo que é extremamente desagradável chegar numa praia e se deparar com um monte de lixo. Praia com lixo é sinônimo de coisa errada!

O cenário é triste, porém, hoje em dia, não é incomum nos depararmos com garrafas pet, sacolas plásticas, canudos, tampinhas de garrafa, lacres, curativos, latas de alumínio ou isopor ao caminharmos pela areia da praia.

Esses e outros itens, dos mais variados possíveis, são encontrados aos montes e “para ajudar”, não há um grande número de lixeiras disponíveis à beira-mar, portanto é imprescindível que cada um faça a sua parte e sempre recolha o seu lixo na praia.

Além das atitudes individuais, existem também as ações coletivas. Os mutirões de limpeza das praias constituem uma ação para a despoluição do planeta. As ações são promovidas por diferentes instituições, e atualmente, os programas, nacionais e internacionais, apresentam grande efetividade, colaborando com a conservação da vida marinha e com a sensibilização da comunidade.

Essas iniciativas podem ser coordenadas por instituições, ambientalistas, empresas, escolas, entre outros e contam com a ajuda de voluntários, que queiram contribuir com a melhoria da comunidade e transformam o meio em que vivem.

FMA e Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho: A união faz a força!

No mês de setembro é promovida a campanha Mares Limpos, onde diferentes grupos se reúnem para realizar um mutirão de limpeza de praias. Esse ano, o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, desenvolveu a ação e promoveu a educação ambiental em comunidades litorâneas da Bahia, Paraíba e Sergipe.

Ação realizada no Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias. Foto: Acervo FMA.
Ação realizada no Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias.
Foto: Acervo FMA.

Além dos estados nordestinos, a região capixaba também contou com uma ação da FMA, que com a colaboração da comunidade, recolheu uma quantidade significativa de lixo do litoral do Espírito Santo.

As ações tiveram a participação de 309 voluntários de diferentes faixas etárias, que se mantiveram empenhados e comprometidos com a causa.

A coleta realizada nos quatro estados contabilizou mais de 1 tonelada de lixo recolhida das praias, em cerca de apenas 13 km percorridos. Todo resíduo coletado foi pesado e foi submetido à análise gravimétrica (análise quantitativa que permite determinar a concentração de um composto em uma amostra), e todos os dados foram enviados para a Ocean Conservancy, que é responsável por analisar e reunir as informações das coletas realizadas no mundo todo.

Foto: Acervo FMA.
Foto: Acervo FMA.

A iniciativa, apesar de simbólica, tem tido papel fundamental na conscientização da população sobre a importância do descarte correto de resíduos. A ação nos convida à reflexão sobre nossos hábitos diários, nos incentiva a aderir um estilo de vida mais sustentável e nos permite ter clareza de que unidos somos capazes de transformar o mundo.

Autor do texto: Juliana Cuoco Badari - GreenBond 

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