“Favo”, um filhote de peixe-boi, foi encontrado no último sábado (22) com diversas lesões graves ao longo de seu corpo, apresentando em alguns pontos até mesmo perda total de seu couro. Ele foi localizado na região da Ponta do Mato em Cabedelo, no litoral norte da Paraíba (PB). O ocorrido provavelmente aconteceu no mesmo dia ou no dia anterior e a causa foi o atropelamento ocasionado por embarcações motorizadas, com cortes provocados pelas hélices. Infelizmente, estes eventos são ainda mais frequentes no verão, sendo uma grande ameaça à vida desta espécie marinha que está em extinção, bem como para as tartarugas-marinhas e os botos-cinza, que utilizam a mesma região.
A equipe do Projeto Viva o Peixe Boi Marinho (PVPBM), realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, está mobilizada desde o ocorrido e já começou com o tratamento adequado ao animal. Em parceria com a APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio, o objetivo agora é monitorar a saúde de Favo de forma contínua e tratar os ferimentos adequadamente, garantindo sua recuperação. Ao mesmo tempo, preocupações adicionais estão relacionadas a gravidade da lesão e a previsão do incremento do fluxo náutico nos próximos dias em virtude do período de carnaval, tornando o problema identificado como um risco de recorrência.
Favo é um grande marco para a conservação marinha brasileira, pois foi o primeiro filhote de uma fêmea de peixe-boi-marinho reintroduzida na Paraíba, simbolizando o sucesso do Programa de Reintrodução do Peixe-Boi-Marinho no Brasil. Desde então, o filhote estava se desenvolvendo de forma forte e saudável, interagindo não apenas com sua mãe, Mel, mas também já foi avistado próximo a peixes-bois-marinhos nativos, comportamento que demonstra sua integração ao ambiente natural.
"Favo" ainda filhote ao lado de sua mãe, Mel. Foto: Acervo FMA.
Diagnóstico dos ferimentos e gravidade relacionada:
Por meio do vídeo enviado pelo colaborador do PVPBM, foi possível identificar a presença de múltiplos cortes na região dorsal, característicos de lesões causadas por hélices de embarcações. Pode-se notar um corte retilíneo, 3 marcas de hélices mais profundas e pelo menos umas 8 menos profundas que vão até o final da nadadeira caudal. As marcas são extensas e profundas em alguns pontos que tem perda total do couro. Os ferimentos assemelham-se às do peixe-boi-marinho “Astro” (que encontra-se no litoral de Sergipe), que ocorreram no fim do ano passado pelos mesmos motivos.
Para o Prof. Dr. João Carlos Gomes Borges, Coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, por tratar-se de um filhote, a situação é frágil e requer atenção. “Trata-se de um ferimento extenso, com áreas relativamente profundas e que devido aos cortes e impacto desencadeado, ocasionou um processo inflamatório e ainda há o risco de infecção. O animal apresenta dor e bastante desconforto. Por tratar-se de um filhote, a intensidade da lesão e o impacto desencadeado, desperta uma preocupação ainda maior.”, afirma Borges. Ele ainda chama a atenção para o fato de que outros peixes-bois-marinhos já foram atropelados anteriormente nesta mesma região, sendo um destes a própria mãe de Favo, chamada “Mel”.
Desta forma, para a Fundação dos Mamíferos Aquáticos, que realiza o PVPBM, é urgente a necessária a tomada de medidas que assegurem o regramento náutico nesta região, considerando que são utilizadas pelos peixes-boi, tartarugas-marinhas e botos-cinza. Além disso, os próprios banhistas também correm riscos de atropelamento, visto que as embarcações, por vezes, transitam em alta velocidade e muito próximas às áreas de banho.
Alguns dos ferimentos de Favo, ocasionados pela colisão com hélice de barcos motorizados. Foto: Acervo FMA.
A chegada de “Favo” em 24 de dezembro de 2022 foi um verdadeiro presente de Natal para a conservação da espécie:
Favo foi o primeiro filhote de uma fêmea de Peixe-Boi-Marinho reintroduzida na Paraíba e este fato representa um marco para a conservação da biodiversidade marinha no Brasil. Fruto do trabalho incansável de conservação da espécie, Favo é filhote de Mel, uma fêmea de peixe-boi resgatada em 2004 e reintroduzida com sucesso na natureza.
O nascimento de Favo é um indicador do impacto positivo das estratégias de conservação, reabilitação e reintrodução de uma espécie ainda ameaçada de extinção no Brasil. O nome de “Favo” foi escolhido por meio de uma campanha digital promovida pelo PVPBM, onde mais de 2.500 pessoas participaram, inclusive com a participação de funcionários da Petrobras, patrocinadora do PVPBM. O nome vencedor, inspirado em “Mel”, sua mãe, reflete o carinho e a sensibilização do público com a história destes animais.
Histórico de atropelamentos dos peixes-bois-marinhos por embarcações motorizadas:
As colisões por embarcações motorizadas representam uma das principais causas de mortalidades dos peixes-boi marinhos na Flórida, podendo além do óbito, ocasionar mutilações graves e permanentes. Este fator de ameaça apresenta-se de forma crescente em outros países, despertando preocupações no Brasil, sobretudo no tocante aos espécimes de reintroduzidos.
Desde 1994, com o início do Programa de Reintrodução dos Peixes-Bois Marinhos, da FMA, aproximadamente 50 animais foram soltos nos estados da Paraíba e Alagoas, os quais, a partir de então, utilizaram as áreas costeiras do litoral da Bahia ao Rio Grande do Norte. Deste total, 10 indivíduos apresentaram evidências de colisões com embarcações, sendo que em quatro destes, os atropelamentos aconteceram em mais de uma ocasião. Um destes animais, já foi atropelado mais de 25 vezes.
Cuidados coletivos e conservação:
O litoral da Paraíba é uma das poucas regiões do Brasil onde é possível observar peixes-bois-marinhos em seu habitat natural, a conservação desses animais é um esforço coletivo, que depende da colaboração de pesquisadores, órgãos ambientais e da sociedade civil.
Porém, é necessário estarmos atentos, pois somente com a colaboração de todos e todas envolvidas poderemos garantir a segurança destes animais. As hélices das embarcações representam um risco enorme para esses animais, que estão ameaçados de extinção. Atitudes simples e responsáveis podem salvar vidas e contribuir para a conservação da espécie. A população e turistas devem seguir orientações importantes para proteger esses animais:
· Mantenha distância ao avistá-los, sem tocá-los ou alimentá-los.
· Em caso de emergência envolvendo peixes-bois, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pelos telefones (83) 99961-1338 ou (83) 99961-1352.
Além disso, condutores de embarcações devem estar atentos para evitar acidentes: reduza a velocidade e desligue o motor ao avistar peixes-bois na área.
O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (PVPBM) é realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas.
Mais informações sobre o projeto e como apoiar podem ser encontradas no Instagram @vivaopeixeboimarinho e @fundaçãomamiferosaquaticos
ASCOM FMA